A 13 dias do início da COP26 em Glasgow, na Escócia, a Embaixada do Reino Unido no Brasil confirmou que o governo britânico não vai mais custear hotéis de quarentena para pessoas oriundas dos 47 países que foram retirados da lista vermelha a partir do dia 11 de outubro, entre eles o Brasil. Disse ainda que alterações de voo precisam ser feitas “de forma independente”, e que nem o governo nem a Embaixada “têm a possibilidade de apoiar com os arranjos logísticos”.
A informação foi publicada nesta segunda-feira, 18 de outubro, no canal do Telegram criado pela Embaixada do Reino Unido no Brasil para comunicar questões logísticas para a Conferência do Clima da ONU, que terá início no próximo dia 31 de outubro em Glasgow, na Escócia.
As reservas nos hotéis de quarentena eram necessárias até 7 de outubro, quando o governo anunciou a saída do Brasil e de outros 46 países e territórios da chamada lista vermelha. Com a medida, que passou a vigorar a partir do dia 11 de outubro, centenas de pessoas credenciadas para a Conferência, e que tinham se antecipado para cumprir a regra anterior, tiveram de se confrontar com custos exorbitantes para a transferência de passagens aéreas em algumas companhias de aviação civil. Alguns valores chegavam a R$ 8 mil por passagem, quase o dobro do valor médio de um bilhete aéreo para o trecho Brasil-UK-Brasil.
Devido aos altos custos, a Embaixada foi questionada sobre se o governo britânico faria uma intermediação, junto às empresas aéreas, para solicitar uma redução das taxas, ou se poderia manter a reserva dos hotéis para aqueles participantes da COP, oriundos do Brasil e de outros países afetados, que não tivessem condições de arcar com as despesas de mudança de passagens aéreas. Porém, nesta segunda-feira, a Embaixada publicou a informação de que “as alterações de voo precisam ser feitas de forma independente e, infelizmente, nem a Embaixada nem o governo britânico têm a possibilidade de apoiar com os arranjos logísticos”.
ONGs correm para alterar voos e evitar o cancelamento de compromissos
A medida, anunciada na segunda-feira, dia 18, soou como uma sirene de alerta aos representantes de organizações da sociedade civil brasileira. O comunicado foi feito por meio de um canal do Telegram da Embaixada. A agência responsável pelo serviço de reservas dos hotéis de quarentena, no entanto, ainda não enviou, por email, um documento confirmando o cancelamento das reservas. “Até agora, o que tenho é uma passagem para semana que vem, a reserva do hotel de quarentena e um compromisso que não sei se poderei cumprir no dia primeiro de novembro, pois está difícil encontrar voos”, disse Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica. “Parece até um paradoxo, pois não ter de cumprir a quarentena é bom. Por outro lado, quem fez tudo certo para cumprir a regra agora está sofrendo o impacto. Não honrar o compromisso assumido antes tem enorme impacto”, pontuou.
JP Amaral, coordenador do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, corrobora o descontentamento com a forma como o governo britânico tratou a questão. “A gente não teria topado ir para a COP se tivéssemos de pagar do nosso bolso a quarentena, mas eles (o governo britânico) incentivaram a participação, dizendo que arcariam com os custos. Agora, o que está acontecendo é que a gente talvez tenha de pagar do nosso bolso esses sete dias extras pré-COP.”
Segundo JP Amaral, devido aos valores exorbitantes da troca de passagens, manter o grupo no Reino Unido na semana que antecede o início da Conferência pode acabar saindo mais em conta. O Instituto está com acesso a 14 credenciais, não só pelo Alana, mas em apoio a outras organizações, como o Parents for Future Global e o Famílias pelo Clima, no Brasil. Todas de pessoas são oriundas de países que saíram da lista vermelha no último dia 11. “Lá vai a injustiça climática mais uma vez desenhar a linha de corte”, lamentou.