Obrigado!

Falta de vacinas e de informações amplia tensão

Falta de vacinas e de informações amplia tensão

À medida que a Conferência do Clima se aproxima, as vacinas atrasam, e o governo britânico se cala diante de um plano detalhado sobre quarentena e protocolos sanitários, crescem a insatisfação e a desconfiança sobre o quão inclusiva, segura e possível será a COP26. 

A Conferência do Clima (COP26), marcada para iniciar no próximo dia 31 de outubro, em Glasgow, na Escócia, ainda está envolta em incertezas e falta de informações. A presidência da Conferência, sob responsabilidade do Reino Unido, havia anunciado para o final de agosto a apresentação de um plano para a realização de uma COP inclusiva e segura, do ponto de vista sanitário. Entretanto, a primeira semana de setembro se encerra com um silêncio gritante.

Paralelamente a isso, é crescente o burburinho sobre o aumento dos riscos associados à realização presencial da Conferência, bem como sobre a falta de equidade entre países capazes de atender ao evento, por questões financeiras.

“A frustração aumenta enquanto os delegados da COP26 esperam pelas vacinas contra a COVID-19 prometidas pelo Reino Unido”, diz o título de matéria do Climate Home News sobre o tema. O governo britânico havia se comprometido a distribuir vacinas para representantes de países em desenvolvimento credenciados para a COP26 e que estivessem com dificuldades de acesso aos imunizantes em seus respectivos países. O calendário inicial indicava que eles seriam vacinados até o dia 23 de julho, porém, a famosa pontualidade britânica falhou no envio das doses. Até o dia 1º de setembro, as vacinas ainda não tinham sido distribuídas. Organizadores da Conferência disseram ao Climate Home News que a distribuição terá início na próxima semana. 

Considerando que a imunização completa com vacinas como AstraZeneca e Pfizer ocorre depois de 15 dias da aplicação da segunda dose; que o intervalo entre as doses deve ser de, no mínimo, quatro semanas (sendo que o ideal seria de 12 semanas, para assegurar o chamado ‘estado ótimo’ da vacina); que o Reino Unido está atrasado no envio das doses; e que a COP está marcada para daqui a menos de nove semanas, é possível entender o porquê da preocupação.

Ainda existe o aspecto econômico, uma vez que – de acordo com as normas anunciadas até agora pelo governo britânico –, independentemente da imunização, representantes de países da chamada “lista vermelha”, Brasil incluído, terão de cumprir quarentena de cinco dias assim que pisarem na “Terra da Rainha”. Os custos estimados são de 2.200 libras esterlinas, algo em torno de R$ 16 mil. Quem pagará a conta? Teremos de aguardar cenas dos próximos capítulos.

Tailândia e Montenegro engrossam a “lista vermelha”

Com a inclusão da Tailândia e de Montenegro na chamada “lista vermelha”, em 30 de agosto, subiu para 62 o número de países cujos representantes serão obrigados a cumprir quarentena. A medida será obrigatória (na lista vermelha) mesmo para quem estiver totalmente vacinado contra a COVID-19 e apresentar teste negativo antes da chegada.

Um ponto que vem chamando a atenção é o fato de a “lista vermelha” ser composta, em sua maioria, por países em desenvolvimento do chamado Sul Global, incluindo praticamente todos da América Latina, além de países africanos, pequenas ilhas, Afeganistão, Bangladesh, Turquia, entre outros. Em contrapartida, embora países desenvolvidos como os Estados Unidos, a França e próprio Reino Unido estejam liderando há pelo menos um mês a lista de nações com maior número de casos diários confirmados de COVID-19, segundo o Our World in Data, os dois primeiros estão na “lista âmbar”, portanto, livres da necessidade de quarentena. Os representantes desses países encontra-se desobrigados de cumprir o isolamento.

Fontes ouvidas pelo Climate Home News sinalizaram o desconforto crescente com a situação. Alejandro Aleman, da Nicarágua, que é o coordenador regional da Climate Action Network na América Latina (CAN-LA), afirmou que tal situação “está minando a confiança na presidência da COP”. Em 24 de agosto, a CAN-AL já havia cobrado “condições igualitárias e justas” para a participação na Conferência.

A situação também foi retratada em matéria na imprensa brasileira. No Valor Econômico  desta sexta-feira, dia 3 de setembro, a jornalista Daniela Chiaretti destacou que “nas condições atuais, o evento não favorece a participação de representantes de países mais pobres, com deficiência de vacinação, recursos e gestão da pandemia”. A matéria traz uma declaração do negociador-chefe do Reino Unido, Archie Young, reforçando o discurso de que “a COP é ambiciosa, inclusiva e presencial”. Young reiterou que protocolos de vacina serão divulgados nos próximos dias. Enquanto isso, o compasso da comunidade internacional será de expectativa e espera.

Compartilhe:

Outras notícias